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By Jô

Esmiuçando qualquer coisa especial

mês

dezembro 2018

Depois de um pouco, outro

Quando a gente se percebe marginalizado, seja em casa, na escola, no trabalho… Quando a gente vê que existir é diferente para a gente, há dor, há medo, há uma angústia em busca de uma estabilidade, que logo se torna segredo. É fácil, então, se isolar em guetos, em becos de aceitação, em ninhos reclusos de ilusão. Enquanto o mundo se conserva homogêneo com todos os seus ambientes e atitudes normalizadas, temos que fingir estarmos saciados com as migalhas que pigmentamos entre trunfos clandestinos.

Para mim, foi fácil assistir séries, colocar o fone de ouvido e entrar num casulo de mundos alheios, ser expectador de felicidades distantes, tornar-me dormente para com o desrespeito à minha volta. Foi fácil não querer sair do quarto, não querer passar das saudações forçadas, não fazer questão de ficar mais meia hora na calçada, porque minha voz foi ficando mais apagada, e eu só a sentia ouvida nos fóruns sobre séries, atrás de um pseudônimo que falava mais alto em uma frase do que eu em uma tarde inteira na fazendo dos meus avós.

Para mim, foi fácil ser apenas o inteligente, o quieto, o que não é como os outros, o que tem seu ritmo. Foi fácil me enganar e escrever e ler sobre o que eu sentia demais e o que faltava também. Guardei tudo, na aba dos favoritos, nas folhas embaixo do colchão, na nuca quente, nos dedos trêmulos, nas madrugadas de questionamentos e descobrimentos silenciosos.

Para mim, foi fácil focar, ficar, fixar em mim. Tudo que era meu foi se tornando orgulho ou remorso, e ninguém soube, e nem ninguém se importou o suficiente para querer saber. Eu fiquei mais refém, mais dependente de minha capacidade de me manter ocupado com minhas paixões. Elas se tornaram exageros, venenos, facas lentamente adentrando meu peito e me cegando em sequências de prazer e arrependimento estonteantes. Realmente, como aguentei tanto tempo, isso sim é fascinante.

Enquanto eu me privei, me poupei, me bastei… O mundo fez o mesmo. Enquanto eu me distraí e me fiz acreditar que os problemas não existiam, os causadores deles mantiveram-se no controle de seus confortos, e eu me enganei ao pensar que o meu era tão válido quanto o deles. Pensei que minhas bolhas eram magníficas, mas as tomei como morada, e não como farol. Deixei-me atrofiar em grandezas particulares enquanto tentei me convencer de que não fazia muita diferença não conversar com quem não queria conversa.

Agora, na subida em busca de consciência, me vejo extremamente frágil, inapto a ser mais do que uma parte de mim, decrepito e atrasado. Por um lado, sou tudo que se pode admirar dentro da bolha. Por outro, sou uma criança perdida nas possibilidades de si mesma, tendo que recolher todas as oportunidades secas no chão e, em vão, tento hidratá-las, mas os tempos são outros, e as iniciativas que me chamam agora não esperam que eu colha as flores incertas de omissões passadas.

Meu lugar é onde eu quiser estar. Por tanto tempo, mais do que consigo lembrar, quis me satisfazer com o cantinho aconchegante das minorias, mas cada vez mais me dou conta de que não é justo exigir felicidade apenas de uma esfera da minha existência em sociedade. No trajeto no qual me encontro, reconheço que é tanto um dever quanto uma necessidade me ligar com mais pontos de convivência, falar e me expressar até quando não sou bem quisto, passar a viver sob a noção de que vale mais a pena tentar ocupar os lugares onde desejo estar do que renegá-los apenas porque não sou uma força centrípeta deles.

Alívio? Até quando?

Assobio
“Elogio”
Asserção
Apropriação

Silêncio
Insalubre
Insensato

Suspiro
Suado
Assédio
Não assalto
A salvo…
São…
Intacto…

Suspiro
Sucinto
Suscetível
Desabo
A salvo?
Ah, alvo
Há contato
Ah, fatos…

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