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By Jô

Esmiuçando qualquer coisa especial

mês

outubro 2018

Turnos

Todo turno, meu, meio soturno continue lendo

Nossas mortes, nossas mortes

Aos 10 anos, joguei fora uma caneta amarela de glitter. Ela tinha aroma de melão e me rendeu uma bronca do meu pai.

Mais um de nossos corpos banalizado, já sem vida, com certa atenção. Agora? Tardia! Mais uma de nossas mortes sendo dita como um caso isolado, exagero inflamado, vitimismo desenfreado. Mais uma de nossas humanidades deslegitimada, pelas mãos da violência levada, pela omissão e conivência silenciada. Laysa ausente, Laysa presente, Laysa é a gente, Laysa é gente só para a gente, para quem sente a dor de se ver mais perto do abismo, do firmamento da nossa SUBexistência.

Resistimos, mas atentos. Resilientes, tememos. Respiramos, tremendo. Aqui estamos, tão cientes do tempo que não temos, que nos é tomado pela preocupação de não podermos ser quem somos a não ser nos esconderijos que nos permitem ter, ainda.

Quem pode, se esconde, quem não pode, é escondido, sob a sombra do ódio, que é soberano, enquanto nosso orgulho é mero menino, de pés descalços e moedas enferrujadas no bolso furado de uma bermuda suja de sangue. Quem pode, se mostra, se beija, se gosta sem sentir-se na mira de uma palavra que pode ser a última facada.

Quem pode, tira a peruca, quem não pode, leva tapa na nuca. Quem pode, engrossa a voz, e é nas costas de quem não pode que a lâmpada se destrói. Quem pode, se isola da luta, porque ela nunca será justa.

E as mães, as que não nos abandonam, querem nos preservar em caixinhas sem cor, na esperança de nos ver prosperar, numa aceitabilidade cruel, no ato opressor que é sutil, que nos induz a uma mutilação interna, podando toda expressão minimamente honesta. Elas têm boas intenções, mas seus corações batem no ritmo da normatividade, porque só ela é sinônimo de dignidade, enquanto não ser hipócrita é atrelado à falta de virtudes, nessa balança da nossa ilustríssima sociedade.

Se não se morre Laysa, se não se morre Dandara, o ser humano morre sem morrer, calado, discreto, embrulhado, depressivo, frustrado… Não aceito, não ignorado, não respeitado, não engolido, certo de que jamais será visto como suficientemente normatizado. Mais um suicídio e lá vamos nós, mais um homicídio e lá vai nossa voz, menos um grito e atamos mais um nó, ficamos mais sós.

Aos 21, guardo um broche com estampa de arco-íris. Tinha de ir no peito, mas fica na terceira gaveta da cômoda.

“Feliz Dia do Professor”

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