Cancelei minha indecisão outro dia, e as crises de autoconfiança foram junto no pacote. Não tive que esperar mais de dois minutos no telemarketing e a moça ainda me deu 50% de desconto no pagamento das taxas de descontinuação dos transtornos. Como comemoração, sem hesitação, fui ao shopping e conheci um rapaz (simples assim), com quem ainda não parei de conversar, nem de descobrir as nossas compatibilidades. Ambos solteiros, famintos, animados, sozinhos, animados para assistir à estreia fantástica do dia, aproveitamos a sessão entre risadas meio afoitas e esbarrões apaixonantes, coisas dignas daquelas comédias românticas de baixo orçamento que a gente assiste quando não tem mais nada para fazer, ou só quer procrastinar mesmo. No fim, o abraço foi atrapalhado, ou seja, não foi simples, foi único, foi nosso, foi seguido pela troca de contatos. Adormeci ouvindo o áudio número vinte ou vinte e dez. Sonhei que já estávamos nos encontrando novamente. Dois anos depois, casamento. Três anos depois, gêmeos. Quarenta anos depois, órfãos. Em outra vida, nos reencontramos em gêneros invertidos e vivemos outra história, desta vez, baseada em vogais. Amor à primeira vista; estrada percorrida com bom humor; instintos seguidos com vigor; ouvidos e olhares sempre atentos aos sorrisos e choros; últimos anos de frente para o mar desenhando um ao outro. Pelados, é claro. Cobertos de areia, é claro. Do cuspe ao lápis 9B à têmpera guache à porra. Por fim, paro de me enganar, os efeitos do calmante estão passando e tenho trabalho da faculdade atrasado. A água ainda não chegou e meu dedo mindinho esquerdo ainda está inchado desde que arranquei uma pétala de carne com os dentes enquanto torcia para meu laptop reiniciar e não quebrar de vez. Ainda sou virgem e o moço da pizza me chamou de gordo infeliz após me assediar e querer me agarrar à força. Chorei, me bati, escrevi texto, deletei texto, recuperei texto, deletei texto. Não atendi às ligações da minha mãe, quebrei o espelho espremendo espinhas, me masturbei cinco vezes em duas horas na madrugada de domingo para segunda no começo da semana de provas. Por fim, estou mais perto do próximo fim, perdi as contas de quantos já tive. O último era para ser o último. Era. Me enganei.
14 de janeiro de 2017 at 10:43 AM
A gente sempre se engana,né? O último nunca é o último! 🙂 😀 😉 Jô, que choque!
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14 de janeiro de 2017 at 10:57 AM
🙂
obrigadinho
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14 de janeiro de 2017 at 10:58 AM
😀 😉
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14 de janeiro de 2017 at 11:15 AM
Esse choque é fenomenal 😀 🙂
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14 de janeiro de 2017 at 12:50 PM
Que ótimo que foi do seu agrado.
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14 de janeiro de 2017 at 12:50 PM
Não tem como não ser 😍
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