Essa gaiola que chamamos de mundo… Suas barras mais fortes… Erramos em pensar que dependem das fronteiras óbvias, às quais somos reféns… Na verdade, são os nossos pensamentos limitados… Eles são a fibra mais robusta, a fonte de nosso maior atraso… Focamos nas transformações tecnológicas e na exploração da natureza, porque, cada vez mais, uma árvore a menos não faz tanta diferença quanto alguns prédios a mais. O sacrifício é necessário porque o progresso é a lei suprema. A grandeza do que ainda existe naturalmente é dizimada em prol da construção do que não precisamos para viver, mas para nos enaltecer em nossas percepções medíocres de nossa superioridade autodestrutiva. E aí, nos dividimos em preconceitos, em cores de pele, em bocas que beijamos, em genitálias que assumimos ou alteramos, em músicas que cantamos, em tudo que nos torna singular, minimante consciente, humanos. Frustrações são cada vez mais normais… O vigor sexual é tido como pilar fundamental… A felicidade é almejada como pedra filosofal onipotente… As decepções são vistas como filtro primário da realidade… Nos castramos com fanatismos, doenças ideológicas, pragas que infectam facilmente e danificam as vidas dos que as alimentam e dos que fogem delas e dos que lutam contra elas. Nos aprisionamos em nós mesmos, principalmente quando não nos permitimos pensar além do que temos em nossa frente. Nos consideramos tão acima de toda outra forma de vida, e até somos, só que em um sentido saliente e corrosivo. Consumimos o essencial para erguer o banal e nos orgulhamos do brilho que daqui a um ano será ultrapassado enquanto cobrimos a extinção de mais uma espécie com a adoração às guerras que poderiam ser acabadas com um simples diálogo de respeito e tolerância. A paciência, a subjetividade e a humanidade são suplantadas pelos altos níveis de uma pressa de ter tudo que é propagado como indispensável, mas que na realidade não passam de distrações fúteis e viciantes feitas para podar nosso ceticismo toda vez que ele ousa aflorar. Tornamos a dignidade da vida algo para poucos, um privilégio cada vez mais caro e reservado para aqueles que se trocam pelas riquezas momentâneas. O ar que respiramos é composto majoritariamente por inveja e ódio. Aonde chegaremos com tudo isso? Este é só mais um texto de lamentação? A reflexão é impossível e a maior perda de tempo é sonhar com o derretimento dos rótulos que nos distanciam da simplicidade da cordialidade? Essas perguntas já foram feitas e jamais respondidas, nem tão veneradas quanto as respostas supervalorizadas e robóticas e flácidas?