Após recuperar-me, em parte, de tantas decepções, me considero pronto para embarcar, novamente, na jornada em busca da única coisa que preciso para viver na zona mais próxima da perfeição. Não é fácil tentar pela milésima vez, mas ninguém nunca disse que seria. O irônico é que o mesmo talento que não é relevante o bastante para me erguer aqui, era a razão pela qual eu consegui tanto sucesso. Muitas vezes penso em apertar o botão vermelho, acabar com o jogo onde sempre perco, tomar o rumo mais incerto da minha história, vivar poeira, nome na pedra, aroma na memória. Mas não, nem chego à beira do abismo, nem cogito abandonar meus sonhos assim, sem pelo menos tentar mais mil vezes. Estou à procura da prisão da qual todos necessitamos, da máscara de oxigênio, do colete salva-vidas. Esta fase de minha caminhada é estranha, cheia de alegrias e dores imensuráveis, cicatrizes no olhar, olhares que marcam sem avisar. A única ligação que tenho com a vida que deixei é o fio de cabelo que não me deixa cair na cova. Tenho medo desse fio não ser forte o suficiente, tenho medo de toda palavra que liberto eu direção àquela região. Não quero voltar a ser uma sombra, uma bomba relógio, uma pessoa que não sou. Então, enquanto o vento soprar devagar e minha cabeça ainda estiver acima do pescoço, eu estarei à procura.